Os olhos dos dois vagueavam pelo lugar, alheios à música, alheios à tudo, menos ao fundo de seus copos, eternos companheiros de quem não tem para onde olhar. Até que eles se encontraram, qualquer pessoa não diria nada demais, mas a partir daquele momento, eles sabiam que um não iria ficar longe do outro por muito tempo.
Copo em mão, ele atravessava a sala em direção a ela, os olhos nunca deixando de focar os dela. Amigos dele resmungavam alguma coisa, mas era o mesmo que nada para aquela vontade abastecida à vinho.
Se trocaram duas palavras foi muito. Em um flash, beijavam-se, o calor da bebida tomando conta de seus corpos. Nada mais existia senão ele e ela, explorando-se, abraçando-se, amando-se, como se o maior mal que pudesse vir fosse a sobriedade. A música alta embalava os dois, que se provavam, se degustavam, se sentiam. Alheios a todo o resto, como toda paixão deve estar. Os braços fortes dele envolviam-na em seus carinhos, enquanto os braços dela se deleitavam nas costas e nuca dele, puxando-o para si.
Os amigos dos dois não mais davam atenção aos mesmos, era isso o que eles queriam, era quase um passe de liberdade não-externado. Nada mais se pode dizer da paixão dos dois, que por nada poderia ser interrompida.
Apenas dois olhos continuavam a fitá-los, dois olhos tristes. Dois olhos melancólicos, que por ela brilhavam, e ardiam de paixão, dispostos a tudo por ela. Dois olhos lúgubres perdidos na multidão, e que apenas observavam, com um copo em mãos. Dois olhos que fitavam os dois, tentando não demonstrar angústia, dor, ou aflição, tentando não demonstrar absolutamente nada, embora nada fosse o completo oposto do que eles estivessem sentindo.
Os olhos se fecharam, esperando não sei o que, talvez que ao os abrir, aquela cena desaparecesse.
Abrí-os de novo, com o copo já em minha boca, esperando que o amargo da bebida me curasse, e o fundo do meu copo fosse a única coisa que eu visse.
Alguma coisa me dizia que Morfeu não conseguiria me levar naquela noite, não sem pelo menos duas garrafas de vinho.