quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Eu te odeio.

Eu te odeio desde o primeiro minuto. No ensaio da sua banda. Costumo dizer que foi rejeição à primeira vista. Você, com suas camisetas xadrez, sendo gentil comigo. Eu bem sabia que só quem é gentil comigo, é quem tem segundas intenções. Seu babaca, de jeito nenhum mostrava que queria algo comigo, mas eu sabia que queria, todos os outros queriam. Seu jeito, amigável, sem querer nada em troca, seu abraço, totalmente despretensioso, e seu olhar. Nossa... Como eu odiava seu olhar. Me fazia acreditar que eu podia ser uma pessoa melhor, e que você só queria ser meu amigo.
Nada mudou enquanto você me confortava, seu imbecil. Ouvia todas as minhas asneiras, e o pior, me entendia. Conversávamos diariamente, para o meu desprazer. Você era idiota ao ponto de “defender minha honra” quando outros caras falavam besteiras de mim. Qualé, que tipo de cara fazia aquilo? Só você.
Meu ódio só cresceu, quando três dias depois da páscoa, eu te disse que não tinha ganhado ovo algum.  Você saiu, rodou a cidade inteira, e comprou o meu preferido para mim. Nem agradecer eu te agradeci. Também, quem mandou você ir lá comprar? Definitivamente não fui eu.
Odiei bastante quando um dia esqueci um trabalho em casa, e em meio a uma chuva torrencial você foi buscá-lo. Voltou com ele totalmente seco, embora estivesse espirrando e com as roupas totalmente ensopadas. Depois você me disse que foram os três dias de pneumonia que mais tinham valido à pena. Só podia ser retardado.
Você definitivamente estragou meu dia. Lembra, daquele dia, seu desgraçado? Naquele show de uma das bandas mais quentes do país. Quando você me tomou pelas mãos, olhando nos meus olhos com suas odiáveis esferas amendoadas. E disse que não queria que a nossa amizade acabasse, mas precisava me dizer algo. Eu bradei algum xingamento para se apressar. E você disse “Eu gosto de você”. Nada de “Eu te amo” nem “Eu te curto, gata”. Dose certa. E aquelas quatro palavras ainda tiveram a ousadia de sair aveludadas pela tua boca. Cachorro.
Eu não te entendo, mesmo te rejeitando, você não se afastou de mim. Disse que queria ser só meu amigo e coisa e tal. Só sendo panaca para querer ser amigo da menina que te rejeitou com um tapa na cara. Eu juro que vi uma lágrima estancar no seu olho. Patético.
Meses se passaram e meu ódio não diminuiu. Eu te contava sobre meus ficantes, peguetes e paixões, e você, ridículo, ainda continuava conversando comigo. Sem demonstrar nenhuma dor. Soube depois que era para não me preocupar. Coitado. Contei-te tudo da minha última paixão, e como ele era bom de cama. Ele virou meu namorado, lembra? Passamos muito tempo juntos, e você só olhando.
Odiei sua reação ao saber que eu estava grávida. Você ficou feliz por mim, e disse que era algo maravilhoso. O pai fugiu, reação certa de um homem. E você ainda se diz homem? Meus pais ficaram loucos atrás do pai, querendo saber quem era, querendo matar o infeliz, e me matar junto por não ter casamento. Ah... Como eu te odiei quando você assumiu a culpa, e disse que iria casar comigo.
Eu te disse que não te amava. Que nunca amaria. Você sorriu e disse que estava tudo bem. Só disse que queria me suportar, me apoiar. E que o seu amor era suficiente para nós dois. Nós três.
Mesmo casados, eu não iria parar de te odiar agora. Desistiu de ser desenhista para seguir a carreira dos pais, seria advogado para nos sustentar. Além de estudar e trabalhar o dia todo no escritório, ainda gostava de cuidar da nenê. Onde já se viu?
Eu odiava a maneira como você me olhava. Aqueles seus ainda irritantes globos amendoados brilhavam, ao simples vislumbre de mim ou da minha filha. A quem você insistia em chamar de “nossa” filha. Parecia que simplesmente não se importava que ela não era sua de fato. Você olhava como se fosse. Idiota.
Eu continuei te odiando quando você desistiu do seu sonho de viajar pro Japão para pagar o tratamento de coração da nossa filha. Não acredito o quão fácil você desistiu da sua poupança. Você juntava aquilo desde quando você tinha dez anos.
Todo dia, o ódio me vinha, quando mesmo depois de um trabalho extremamente exaustivo, você chegava a casa sorrindo. Brincava sempre com nossa filha. Tsk... De tanto você falar, também disse que ela é “nossa” filha. E depois de brincar, ainda conseguia me dar carinho. Não que eu te pedisse, você dava porque queria, oras.
Você não sabe o quanto te odiei, quando mesmo debilitado, e em frente ao aval positivo do médico para câncer em estágio avançado, você sorriu para mim e disse que iria estar tudo bem. Odiei-te profundamente, mesmo. Como você podia, naquele momento, pensar em fingir, para não me deixar preocupada, e não preocupar nossa filha? E ainda teve a ousadia de pedir para nós sairmos do consultório, só para perguntar ao médico “E agora? Como vai ficar minha família, doutor?”. Você só se preocupou com a gente! Seu grandessíssimo idiota!
Odiava-te quando sabia que você sentia dores na enfermaria, e quando nós chegávamos, você sorria. Eu te dizia para não se forçar a sorrir. E você retrucava que não estava forçando, que éramos nós duas que te davam força para prosseguir.
Eu te odiei até o minuto final. E você sabia da natureza do meu ódio.

Volta...

Deixa eu te odiar mais um pouquinho.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Demon Law - Prologue

O ano é 2317. O avanço tecnológico é constante e exponencial, assim como a perda dos costumes de outrora. Em meio a esse caos evolucional, surgem em todo o mundo boatos sobre a existência de seres sobrenaturais. Logo já não eram mais boatos. Era real. Havia anjos e demônios entre os seres terrenos.
Será que o dia do juízo chegara, e a humanidade seria julgada? Ironicamente, era exatamente o contrário. Chegou ao conhecimento de anjos e demônios que o dia do julgamento final não viria. A divindade que regia os primeiros e amedrontava os últimos sumira, tal como surgira. Não deixou nenhum rastro, ou seja, o dia fatídico, onde todo o mal seria punido e purificado, não iria acontecer. Os, então, frustrados seres celestiais e os animados seres infernais decidiram que chegou a hora de tomarem atitudes.
A guerra seria no mundo terreno, já que a possibilidade de um dos lados entrar no território do outro era, aparentemente, nula.
Embora não pudessem se materializar completamente no plano terreno, cada lado começou a se aliar com os humanos, cada um a seu modo, claro. Ambos precisavam de corpos para exercer poder sobre, sejam eles vivos ou inanimados. Os demônios possuíram os humanos, escravizando-os e tomando completo controle do corpo de vários deles.
Já os anjos, por meio de visões, explicaram a situação aos até então confusos humanos, pedindo sua cooperação. Mais espertos, os seres infernais deram o primeiro passo na guerra, possuindo Harry Redfield, o presidente das Indústrias Redfield, a maior indústria de armas e tecnologia do século 24. Tomando assim, conta das mais novas tecnologias disponíveis, e encurralando a resistência humana.
Em uma missão cujos detalhes foram esquecidos pela história, a resistência invadiu uma das fábricas secretas das Redfield Industries, onde, segundo informações, estava escondido um míssil de EMP (Pulso Eletro-Magnético) forte o suficiente para apagar o mundo todo. Segundo historiadores, o objetivo era encontrá-lo e inutilizá-lo. Mas algo deu errado.
A bomba foi lançada na atmosfera, jogando a humanidade de volta à era das trevas.  Agora que grande parte da tecnologia da terra não funciona mais, a guerra foi obrigada a ser travada do modo antigo. Com espadas e escudos.
Algo que o homem descobriu tarde demais foi que a materialização, a incorporação dos seres sobrenaturais em humanos é extremamente nociva. Quando um demônio escraviza um humano, tomando conta de seu corpo, pouco a pouco, o mesmo começa a sofrer mutações bestiais, perdendo o controle de seu corpo, tendo por fim, a transformação do humano em uma fera demoníaca. Esses humanos são considerados mortos desde o momento em que foram possuídos, pois a retirada do demônio do corpo dos mesmos, também causa suas mortes.
Por esses motivos, os anjos são contra a materialização em humanos, e desenvolveram outras formas de lutar contra os demônios. A forma mais eficaz foi a materialização tendo como catalisador objetos sem vida, mais especificamente, armas. Essas armas são as únicas formas de "purificar" os demônios, impedindo-os de agir no mundo terreno, embora também destruam o humano escravizado. A posse de tal arma também impede demônios de possuírem o usuário.
Sagazes e astutos, os seres infernais trataram de possuir os responsáveis pelos últimos órgãos que ainda tinham algum poder político na esfera mundial, tomando controle de todas as relações políticas entre as nações agora devastadas. A conquista dos demônios obrigou os humanos sobreviventes e não escravizados a tomarem uma iniciativa. Junto com os anjos, eles formaram uma organização contra os demônios. Nomeada “Rebel Endeavour: Angel Law”, ela conta com centenas de agentes equipados com armas celestiais que todo dia lutam para conter o avanço demoníaco e proteger o pouco que resta de seu mundo.

sábado, 16 de julho de 2011

Wine Glances

Os olhos dos dois vagueavam pelo lugar, alheios à música, alheios à tudo, menos ao fundo de seus copos, eternos companheiros de quem não tem para onde olhar. Até que eles se encontraram, qualquer pessoa não diria nada demais, mas a partir daquele momento, eles sabiam que um não iria ficar longe do outro por muito tempo.
Copo em mão, ele atravessava a sala em direção a ela, os olhos nunca deixando de focar os dela. Amigos dele resmungavam alguma coisa, mas era o mesmo que nada para aquela vontade abastecida à vinho.
Se trocaram duas palavras foi muito. Em um flash, beijavam-se, o calor da bebida tomando conta de seus corpos. Nada mais existia senão ele e ela, explorando-se, abraçando-se, amando-se, como se o maior mal que pudesse vir fosse a sobriedade. A música alta embalava os dois, que se provavam, se degustavam, se sentiam. Alheios a todo o resto, como toda paixão deve estar. Os braços fortes dele envolviam-na em seus carinhos, enquanto os braços dela se deleitavam nas costas e nuca dele, puxando-o para si.
Os amigos dos dois não mais davam atenção aos mesmos, era isso o que eles queriam, era quase um passe de liberdade não-externado. Nada mais se pode dizer da paixão dos dois, que por nada poderia ser interrompida.
Apenas dois olhos continuavam a fitá-los, dois olhos tristes. Dois olhos melancólicos, que por ela brilhavam, e ardiam de paixão, dispostos a tudo por ela. Dois olhos lúgubres perdidos na multidão, e que apenas observavam, com um copo em mãos. Dois olhos que fitavam os dois, tentando não demonstrar angústia, dor, ou aflição, tentando não demonstrar absolutamente nada, embora nada fosse o completo oposto do que eles estivessem sentindo.
Os olhos se fecharam, esperando não sei o que, talvez que ao os abrir, aquela cena desaparecesse.
Abrí-os de novo, com o copo já em minha boca, esperando que o amargo da bebida me curasse, e o fundo do meu copo fosse a única coisa que eu visse.
Alguma coisa me dizia que Morfeu não conseguiria me levar naquela noite, não sem pelo menos duas garrafas de vinho.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Dear brother.

Caro irmão,
                como você está? E papai e mamãe, estão bem? Está cuidando deles direito? Espero, já que os deixei em suas mãos, moleque. Sei que não tenho escrito muito, nem escrito o suficiente, nem escrito, pra dizer a verdade. Minhas sinceras desculpas.
                O fato é... Estou deveras ocupado em uma cautelosa missão, onde é terminantemente proibido o uso de falcões. Aproveito agora, que um mensageiro irá levar relatórios ao quartel, para escrever.  Desculpe se minha letra está feia ou algo do tipo.
                Espero que enquanto estou aqui, você esteja melhorando aquela sua podre técnica de espada, irmãozinho. Pode deixar que na minha folga vou pegar pesado com você, e jogar aquele seu escudo fora. Homem que é homem esquiva ou apara (Brincadeira).
                Não sei se já contei-lhe em cartas passadas, irmão, mas fui promovido à sargento, com louvor, e muitos elogios do comandante. Provável que a notícia tenha chegado até aí, soube que eles enviam cartas às famílias nessas ocasiões. Fui elevado após uma árdua missão de recuperação de arquivos confidenciais do exército, furtados por um recém-descoberto grupo criminoso. No campo demonstrei bravura ao liderar companheiros quando o sargento, responsável e líder da missão, havia caído.
                Nem por isso deixe papai dizer que você “deveria ser igual ao seu irmão”. Absurdo será se ouvires. Balela, pura e simples. Todos nós somos diferentes, isso é fato. Ninguém pode cobrar pra que nós dois sejamos iguais. Mas... No final das contas somos bem parecidos, fora sua horrível técnica de espada. Tá, tá, fora a minha péssima prática com um escudo também.
                Outro dia lembrei de quando nós fomos buscar o leite, que fora trocado pelos legumes de nossa fazenda, em uma estância um pouco mais longe. Como bons soldados-mirins sempre carregávamos nossas fiéis espadas de madeira. Mesmo assim aquele ignóbil filho do dono de uma propriedade vizinha veio tentar nos roubar. E nem necessidade ele tinha de fato. O único problema é que ele era mais velho, e mais forte. O bastardo chegou sorrateiramente por trás de nós e tentou me esmurrar. Lembro como se tivesse ocorrido ontem da cara que o demente fez ao te ver levando aquele murro. Foi impressionante de sua parte, irmão... Sustentar aquela força, e, mesmo com aquela idade, não cair. Mas também não deixei por menos, acho que até hoje aquele pilantra deve sentir o gosto de minha espada. Mesmo que de madeira ela fosse. Tantas memórias passam pela minha mente agora, irmão.
                Bem... Desculpe irmão, por não contar a verdade logo no início desta carta. Fui tentando reunir forças para dizer-lhe. Por favor não mostre essa parte da carta ao papai e à mamãe. O fato é que estou condenado. Esta missão tomou proporções gigantescas, muito maiores que o esperado pelo comandante. Estamos na fronteira do estado e nosso objetivo é combater um grupo invasor de homens-lagarto. Inicialmente eles eram algo em torno de seis, mas esse era só o pelotão de reconhecimento. Não sei quantos mais virão, achamos papéis com esse pelotão que diziam ser muito grande o total de invasores, grande demais para mim e meus companheiros.
                É tarde demais para reforços, e mais ainda para fugir. O mensageiro chamado vai enviar todo o conhecimento que obtemos da operação inimiga, para organizar um contra-ataque o mais cedo possível. Infelizmente não será tão cedo assim, e nossa missão será conter a invasão o máximo que pudermos. A maior missão que eu e meus aliados já tivemos.
                Eu e meus aliados... No meio dessa euforia, esqueci de te falar algo interessante, irmão. Lembra quando papai disse que para vencer, um soldado precisa confiar no outro? Ele não podia estar mais certo. Seus companheiros são a chave para a vitória. Seus companheiros, seus amigos, seus iguais. Mesmo você que quer proteger à todos, precisa de alguém para te proteger, e eles vão estar lá pra você. Proteja seus amigos, irmão, sua equipe será a coisa mais importante da sua vida. Você lutará com eles, e os protegerá, enquanto eles lutarão com você, e o protegerão. Como um menino ousado, a primeira pergunta que me faria seria “Como vou saber quem eles são?”, e responder-lhe eu irei.
                Você saberá. Simplesmente isso. Você saberá quando sentir seu espírito em chamas ao lutar ao lado deles. Sua espada saberá, quando ela sentir que ao lado dela, estão outras armas aliadas com um mesmo fim comum. Seu escudo saberá, quando ele sentir que mesmo se falhar, outros estarão ali para cobri-lo. Sua armadura saberá, quando ela sentir que o peso da arma inimiga sobre ela não representa nada, quando se está ali para defender um amigo. Você saberá... Quando lutar e fizer valer sua honra. Quando mesmo nos confins do universo lutarem contra o inimigo mais diabólico, e ao estar defronte a ele, você não sentir medo, só sentir a vontade e a esperança de vencer.
                Porque é com sua honra, sua esperança e com seus companheiros que você luta, quando tudo mais está perdido.
                Espero que encontre muitos companheiros em sua jornada. Proteja-os, e eles o protegerão. Eles são seus iguais, parceiros para a vida toda, entendeu, irmãozinho?
                O sol que vai raiando é um sinal que não posso me estender. Torço para que você tenha entendido tudo que precisei dizer, mesmo nesse curto espaço de folhas... Saiba que seu irmão te deseja os melhores companheiros do mundo. Diga ao papai e à mamãe que eu os amo, e apesar de ter negado por todo esse tempo, eu também te amo, irmão. Você será para sempre meu Escudo, Atem.
                                                                                               Sua Espada...       Asch.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Garoto e as Histórias















     Parte 1 - O Garoto e a bicicleta.

     Era dia. Mas não era qualquer dia. Era o dia. Lógicas infantis dizem que um garoto que ganha uma bicicleta não espera o sol estar em seu auge para inaugurá-la. Logo cedo os outros garotos (é, aqueles sem duas rodas, e que não são O Garoto) que jogavam bola, podiam ver o Garoto à tirar sua preciosa da garagem. Um sorriso nos lábios e um paninho em suas mãos, não podia deixar de lustrá-la na frente dos outros.

     "Não tem preço" - Pensou.

     Montou-a, logo encarando sua levemente íngreme rua de seu ápice. Sua casa era no topo da ladeira, rodeada por outras criativas casas exatamente iguais, até sua base. A única diferente era a casa de frente para a "raiz" da ladeira. Suspeitava que esta era exatamente igual em cores em tempos passados, mas os descuidos do dono levaram-na a tomar cores mais escuras, era fato que ela parecia ser maior que as outras, para comportar tesouros. Rumores.

     Ignorou esses fatos, o importante era que esse seria o seu primeiro vôo sem o auxílio da mamãe-pássaro, ou seja, primeira bicicleta sem rodinhas. Para começar a voar, basta um impulso, que foi dado, mas não antes de um longo engolir em seco. O falcão-bebê alçou vôo, turbulento, como todos os primeiros são. Tremia mais que gelatina na colher, segundos antes de entrar na boca. Tentava num infinito esforço equilibrar-se naquelas (agora insanas) duas rodas.

     "Agora a gravidade faz o resto."

     Pensou ele, parando de pedalar. Seguia uma lição aprendida por todos aqueles que já tentaram descer ladeiras em duas rodas, a sua aprendida com o custo de muitos joelhos e mãos raladas.

     "Oras, bicicletas de rodinhas também caem, ou não?"

     Não se deu tempo de cogitar-se idiota pelos atos passados, só importava a ele o presente. A adrenalina começou a encher seu corpo, o sentimento de domínio sobre as duas rodas era incrível. Ainda mais interessante era a inveja pela qual ele ia sendo banhado, já que os outros garotos iam acompanhando-o com seus olhos, suas bocas não parando de chamá-lo, e não eram por bons nomes. Pouco o importava, o filhote de falcão queria voar mais alto, queria mais, muito mais.

     Confiante, retirou os braços da bicicleta, abrindo-os como se alçasse vôo, descendo aquela ladeira sem fim como se fosse uma pista de decolagem e em alguma hora iria realmente partir. Não é necessário nem dizer que a razão já havia abandonado-lhe à tempos e a esta hora ela estava lá, debaixo de sua cama, pensando no destino do moleque. Fechou os olhos, estava voando, absorto em pensamentos, nas núvens. O vento em seu rosto apenas soprando em seus ouvidos para ir mais rápido.

     Curioso foi como apenas um pensamento conseguia ser claro naquela emoção toda:

     "Heh! Venham me parar, seus invejosos! Hahahahah!..."                                                         


     Parte 2 - O garoto e o trem.

     Era dia. Um dia qualquer. Seus olhos se abriram. Não havia mais bicicleta, nem emoção, nem a falta de ambas o afligia. Sentado ele estava em um banco, um banco de uma estação de trem. Muito movimentada por sinal. Tinha um bilhete na sua mão em que se lia "The Bl---- Train - Ticket 1A", pouco era seu conhecimento em inglês, então parte dele era ilegível para o garoto. E mesmo as partes que ele sabia, pareciam dançar sobre sua visão. Esfregou os olhos para enxergar melhor, nada adiantara. Era como se uma neblina estivesse somente na frente dos olhos dele, e apenas os curiosos pisos em xadrez da estação eram nitidamente visíveis.

     Um som estridente irrompeu de uma das entradas da estação. O trem estava chegando. Levantou-se com o bilhete em mãos, para esperar o mesmo, e perceber, que apesar de a estação estar lotada a minutos atrás, não restava mais nenhuma alma à vista. Um lindo trem londrino se aproximava, azul, com vários detalhes em dourado, era obviamente de primeira classe.

     Notou um jovem esguio saindo por uma das portas do trem. Via-o muito bem, como se a neblina não o afetasse. Roupas em azul e dourado, obviamente combinando, e olheiras severas que não combinavam com nada. Apesar delas, em muito bom tom o jovem o abordou:

     - Bem vindo! Seu bilhete, senhor? - Que nos ouvidos do garoto também pode ser ouvido assim - Welcome! Your ticket, sir?
     - Ah... Está aqui - Disse o pequeno, estendendo-lhe o pequeno papel azul.
     - Hmm... 1A... Desculpe-me senhor, mas este bilhete ainda não está pago.
     - Não? Pensava que bilhetes só eram dados quando pagos - Insolente até em pensamentos.
     - Nosso sistema é outro, senhor... Aqui o pagamento só é feito com presença.... Em carne e osso... - Com um sorriso um tanto estranho, aproximava os dedos da testa do garoto, que começava a latejar.
     - Argh!!! Que ... O que é isso?! - Guinchou de dor, sangue começara a jorrar de sua testa, e escorria pelo seu rosto. Correu as mãos à testa, tentando estancar o ferimento que agora causava-lhe uma insana dor. Em sua luta para deter o sangue, ia se afastando do jovem macabro. O sangue caia em seus olhos, avermelhando a sua visão, para depois se escurecer completamente.


     Parte 3 - O garoto e o velho.

     Já não era dia. Pelo menos não havia nenhum raio de sol visível. Instintivamente um grito escapou de sua boca. Com os nervos em ordem, sentia quase todos os músculos do corpo à doer. De sua testa vinha uma dor lancinante, mais forte que as outras, talvez porque alguem estivesse tratando os ferimentos naquele lugar. Tentou mover-se para ver quem era aquele, que não se assustara nem com o grito. Depois pensou muitas vezes no porquê de ter tentado, apenas conseguira fazer seus ferimentos doerem mais.

     - Easy, boy... - Vinha uma voz madura, de senhor, de um senhor bastante velho.
     - Que... Que merda eu estou fazendo aqui? - Indagou o insolente pivete.
     - Olhe as palavras... Mães não gostam de ver seus filhos falando essas coisas... - Pigarreou ocupado em fazer o curativo, básico, apenas pro garoto não verter mais sangue - Resumindo... Ouvi um barulho fora de casa... Vim, e encontrei um guri no chão desacordado, que aparentemente tinha se estatelado contra meu muro favorito...

     Apesar de pensar em como alguém tem um muro favorito, outra pergunta atingiu-lhe a cabeça como... Bem... Como o muro:

     - E A MINHA BICICLETA?!
     - Mais baixo... Ninguem grita na minha casa... - Disse apenas, sem ar de mandão, parecia mais um avô. Embora fosse um avô bem desgrenhado - Inutilizada, não sei como você sobreviveu... Olha lá.

     O velho disse, indicando a bicicleta destruída que jazia não tão distante do moleque. Que não pôde deixar de conter um chorinho. Terminado o curativo, o garoto finalmente pôde ver onde estava, era aparentemente a livraria pessoal do mausoléu no fim da rua. Um tanto escura para o seu gosto, mas não podia negar que o velho tinha muitos livros. Com pressa para sair de lá, agradeceu, e pegou a bicicleta, ou o que restava dela. Nisso o velho não pôde deixar de abordá-lo:

     - Porque não ficas? Que tal uma história? Faz muito tempo desde que tive um visitante tão... Tão aberto a novas aventuras... - Riu baixinho, vislumbrando os ferimentos do garoto.
     - Não tô muito afim de ser caçoado... - Disse baixo, frio, mancando para a saída, notando curativos por todas as extremidades do corpo.

     O velho sorriu, andou de um lado para o outro, pensativo. Enquando o menino saia, então, decidiu-se, indagando para o moleque:

     - Espere guri! Tenho algo mais interessante que piadas... Prometo-lhe aqui, todo o meu tesouro, se tu escutar minhas histórias, claro!!!

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To be continued.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O que um cavaleiro faz à noite?


     Na noite do deserto, o silêncio reina. A inércia também reinaria, não fosse um farfalhar tímido que havia no acampamento de alguns aventureiros. O quase nulo barulho vinha da tenda do cavaleiro, que não pretendia dormir tão cedo. Saiu cauteloso da própria tenda, quase irreconhecível, já que a armadura faz o cavaleiro e a dele fazia muito barulho.

     Se esgueirava pelas tendas, pensando se seria realmente correto fazer isso, ir à tenda da cronista à noite, o que seus companheiros iriam pensar? A maga acharia um horror e o torraria com um de seus trovões... Ah, seus trovões... O jovem militar tinha até calafrios em pensar. Não sabia decerto o que o monge pensaria, já que não se consegue mais ler os pensamentos de um monge que acha que matar pode ser correto. O que mais lhe preocupava era a reação do guerreiro, essa sim seria imprevisível. Sorte que o irmão da cronista não mais andava com eles.

     Suando frio, ele avistou a tenda, a única iluminada pela luz do lampião. Espiou pelas frestas dos panos, a cronista estava lá, sentada de costas para a entrada, como se lêsse algo, muito entretida, os cabelos longos lindos como sempre. Não se arriscaria a ficar mais tempo fora da tenda, e entrou silenciosamente, ela porém, não percebera. O simples movimento de tocar nos ombros dela, foi acompanhado por uma série de coisas: um arrepio, um olhar e uma surpresa.

     - MAS QUE MER-... - Ia gritando a garota quando por fim avistara o cavaleiro, sorte que o mesmo tapou-lhe a boca antes que acordasse os outros.
     - Tá louca?! Sou eu... - Indagou o cavaleiro, retirando a mão da boca dela enquanto ela se acalmava.
     - Ah!... - Silenciou-se a cronista, enquanto olhava-o de cima a baixo - Você está diferente sem armadura...

     O silêncio permaneceu por mais algum tempo, ele meio sem jeito, e ela envergonhada pela reação, mas rindo mesmo assim. Calados estavam, até a garota virar e puxar alguns papiros e papéis um tanto antigos, que tinham quase a metade da vida dela. Visou-o, ele podia ver seus olhos enxendo-se de emoção e entusiasmo, até que ela disse:

     - Bem vindo à sua primeira aula de Relações Públicas e afins!! - Revelava os papeis cujos dizeres mais frequentes eram "Nada é verdadeiro. Tudo é permitido" e "Relações Públicas para espertos".
     - Yupee... - Ironizava o cavaleiro, não tão empolgado.
     - Ânimo! Como líder você tem que ter esses conhecimentos... Ou vai nos colocar em enrascadas!
     - Eu pensava que você era a líder... Como falou aquele ch...
     - Eu não sou a líder!! E eu te mato se falar mais uma vez naquele desgraçado... Já foi tarde... Hunf!

     Percebeu o visível desagrado que a cronista tinha ao falar naquele assunto, preferiu não estender o assunto, logo tentando voltar à possível aula.

     - Então...
     - Ah sim... Primeiro, me mostre como você fala...
     - Como assim?...
     - Tipo quando você fala aquelas coisas heróicas e tal, no meio da batalha...
     - Hm... Okay... - Preparou-se, estranhamente ela o viu puxando ar, como se fosse gri...- A HONRA DO CAVALEIRO ESTÁ NA SUA ARM-...
     - Assim não, retardado!! - Gritou o mais silenciosamente possível* para ele, dando-lhe um cascudo na cabeça - Ai ai... Eu também não me expliquei direito.

     A cronista ia se lamentando por ser má professora, pouco, já que seu orgulho não deixava ela se menosprezar tanto. Ele resmungava baixinho, quase um chorinho, por ter sido repreendido, traumas do exército, já fora repreendido demais. Enquanto reclamavam, ouviram uma voz, que arrepiou totalmente o cavaleiro:

     - Quem está gritando a esta hora da noite?!

     Era a maga! O cavaleiro deu um sobressalto, todos os cabelos do corpo se arrepiando e lembrando dos temidos relâmpagos. Enquanto procurava uma saída silenciosa para a tenda ele sussurrou para a cronista:

     - Depois a gente continua! - Com um leve tom medroso em sua voz.

     A menina concordou, e virou-se para guardar as coisas e dormir, ao mesmo tempo que o cavaleiro corria.

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Obs: Inspirado em personagens fictícios de uma certa mesa que está morta por um momento.
Qualquer erro, relatem pra mim que eu conserto xD
*Perguntem à Rafa como é possível gritar silenciosamente.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

The Fire, the Light and the Darkness

Once upon a time there was Fire, Light and Darkness
Fire and Light were the best of friends.
And Fire loved Darkness.
But he could never be by her side.
Because Fire, when embracing the Darkness...
Brought to her the Light.

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Obs: Fiz a base à muito tempo, perdi o original, que creio eu, estava bom. Mesmo assim, quis postar, uma versão nova. Se achar a antiga, eu posto. Ah, muito obrigado à jornalista Rafaela de Moraes pela ajuda essencial neste pequeno poema.

Menti! Ops...

Olá =D.

Sem muito alvoroço, alarde nem campanhas, vou começando esse blog. Sempre tive a vontade de fazer um, mas a preguiça sempre dizia "não, cala a boca e dorme". Desculpem-me se o layout está simples, ou até feio, tentei fazer o melhor que pude com ele... rs.

Um dos meus dilemas era escolher um nome, já que vários dos blogs dos meus amigos tem nomes supimpas, senão geniais. O meu saiu agora, no meio de uma conversa com uma menina maluquinha que conheço, o que me motivou mais ainda a fazer o blog logo.

Não é verdade que vivemos num mundo cheio dessas coisas?... Então faz todo sentido meu blog ser uma representação do meu mundo, seu mundo... Esse mundo aí.

Pretendo postar bastante, só não sei se a preguiça deixará. Podem ser fatos normais, como num blog costumeiro, uma história (não são bem escritas, já deixo avisado), desenhos meus, ou até músicas... Então fiquem avisados ao ler este blog, ele pode conter mentiras, verdades, mentiras sinceras e verdades distorcidas.

See ya.