quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O que um cavaleiro faz à noite?


     Na noite do deserto, o silêncio reina. A inércia também reinaria, não fosse um farfalhar tímido que havia no acampamento de alguns aventureiros. O quase nulo barulho vinha da tenda do cavaleiro, que não pretendia dormir tão cedo. Saiu cauteloso da própria tenda, quase irreconhecível, já que a armadura faz o cavaleiro e a dele fazia muito barulho.

     Se esgueirava pelas tendas, pensando se seria realmente correto fazer isso, ir à tenda da cronista à noite, o que seus companheiros iriam pensar? A maga acharia um horror e o torraria com um de seus trovões... Ah, seus trovões... O jovem militar tinha até calafrios em pensar. Não sabia decerto o que o monge pensaria, já que não se consegue mais ler os pensamentos de um monge que acha que matar pode ser correto. O que mais lhe preocupava era a reação do guerreiro, essa sim seria imprevisível. Sorte que o irmão da cronista não mais andava com eles.

     Suando frio, ele avistou a tenda, a única iluminada pela luz do lampião. Espiou pelas frestas dos panos, a cronista estava lá, sentada de costas para a entrada, como se lêsse algo, muito entretida, os cabelos longos lindos como sempre. Não se arriscaria a ficar mais tempo fora da tenda, e entrou silenciosamente, ela porém, não percebera. O simples movimento de tocar nos ombros dela, foi acompanhado por uma série de coisas: um arrepio, um olhar e uma surpresa.

     - MAS QUE MER-... - Ia gritando a garota quando por fim avistara o cavaleiro, sorte que o mesmo tapou-lhe a boca antes que acordasse os outros.
     - Tá louca?! Sou eu... - Indagou o cavaleiro, retirando a mão da boca dela enquanto ela se acalmava.
     - Ah!... - Silenciou-se a cronista, enquanto olhava-o de cima a baixo - Você está diferente sem armadura...

     O silêncio permaneceu por mais algum tempo, ele meio sem jeito, e ela envergonhada pela reação, mas rindo mesmo assim. Calados estavam, até a garota virar e puxar alguns papiros e papéis um tanto antigos, que tinham quase a metade da vida dela. Visou-o, ele podia ver seus olhos enxendo-se de emoção e entusiasmo, até que ela disse:

     - Bem vindo à sua primeira aula de Relações Públicas e afins!! - Revelava os papeis cujos dizeres mais frequentes eram "Nada é verdadeiro. Tudo é permitido" e "Relações Públicas para espertos".
     - Yupee... - Ironizava o cavaleiro, não tão empolgado.
     - Ânimo! Como líder você tem que ter esses conhecimentos... Ou vai nos colocar em enrascadas!
     - Eu pensava que você era a líder... Como falou aquele ch...
     - Eu não sou a líder!! E eu te mato se falar mais uma vez naquele desgraçado... Já foi tarde... Hunf!

     Percebeu o visível desagrado que a cronista tinha ao falar naquele assunto, preferiu não estender o assunto, logo tentando voltar à possível aula.

     - Então...
     - Ah sim... Primeiro, me mostre como você fala...
     - Como assim?...
     - Tipo quando você fala aquelas coisas heróicas e tal, no meio da batalha...
     - Hm... Okay... - Preparou-se, estranhamente ela o viu puxando ar, como se fosse gri...- A HONRA DO CAVALEIRO ESTÁ NA SUA ARM-...
     - Assim não, retardado!! - Gritou o mais silenciosamente possível* para ele, dando-lhe um cascudo na cabeça - Ai ai... Eu também não me expliquei direito.

     A cronista ia se lamentando por ser má professora, pouco, já que seu orgulho não deixava ela se menosprezar tanto. Ele resmungava baixinho, quase um chorinho, por ter sido repreendido, traumas do exército, já fora repreendido demais. Enquanto reclamavam, ouviram uma voz, que arrepiou totalmente o cavaleiro:

     - Quem está gritando a esta hora da noite?!

     Era a maga! O cavaleiro deu um sobressalto, todos os cabelos do corpo se arrepiando e lembrando dos temidos relâmpagos. Enquanto procurava uma saída silenciosa para a tenda ele sussurrou para a cronista:

     - Depois a gente continua! - Com um leve tom medroso em sua voz.

     A menina concordou, e virou-se para guardar as coisas e dormir, ao mesmo tempo que o cavaleiro corria.

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Obs: Inspirado em personagens fictícios de uma certa mesa que está morta por um momento.
Qualquer erro, relatem pra mim que eu conserto xD
*Perguntem à Rafa como é possível gritar silenciosamente.

3 comentários:

  1. não vou mentir que pensei besteira à priori...

    mas adorei. O jeito como vc escreve, inclusive, que é bem fluido, bem conectado, e leve... Gostei muito :) mas não estou nenhum pouco surpresa com seu talento... sempre soube ^^

    não sei por quê, esse cavaleiro e essa cronista me lembram pessoas...

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  2. Viva a comunicação! \o/ (vai contra meu orgulho de jornalista dizer viva as relações públicas =p) Quero mais mesa, poxa... Duas semanas e um pouquinho pra eu voltar pro Brasil!

    E você criou uma narrativa muito legal nisso aqui, impressionante mesmo! Quero ler mais das suas coisas, isso ficou muito massa... Não pare de escrever, aprendiz! u_u

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  3. Medo da maga, mas me simpatizei bastante com o cavaleiro xD
    Eu nem preciso dizer q sua narativa tava otima pq ja lhe disse e os comentarios acima ñ negam, mas quero ver mais coisas cool puraqui =O
    Parabens ae Beron pelo blog realmente d fato bom =DD

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