quinta-feira, 7 de março de 2013

Cinco picolés e uma oração.

Nada melhor que uma dormida depois do almoço, não? A faculdade acabara cedo. Pra variar um professor faltou, nos deixando com somente uma das aulas. Entrega de trabalho. Rápida. Prática. Indolor. A volta pra casa carregara algum peso já que uma amiga queria ter uma DR. Quem já se viu, amiga ter DR. Vôte.

Santo sono (, Bátema). Rearrumei-me, ficando pronto para o trabalho, peguei o carro e fui. Torcendo para que ainda houvesse um Picolé de Morango naquela vendinha perto do escritório. Ah... Meu ritual de gordura. E de alucinação e relaxamento, já que o mesmo me proporcionava momentos sublimes no meio dessa vidinha caótica.

Antes de doze horas era impossível achar estacionamento para o carro. O esquema era chegar um pouco atrasado para garantir uma vaga. Já que dez minutos mais cedo poderiam significar dez minutos gastos procurando uma vaga.

Tranquei o carro e me dirigi ao local santo que me separava do trabalho escravagista. Ficava no mesmo prédio, na galeria no térreo. Ao passar pelo porteiro, ele me para, e diz:

- A "dôtora" tá no carro, na frente do prédio. - Eu vi, ótimo, não vou ouvir ela gritando hoje.
- Eu sei, tranquilo.
- Vai lá... Parece que um irmão dela morreu...

Parei, provavelmente pálido. Conhecia todos os irmãos da advogada. Ela insistia em me levar nas festas de família, e todos eles me tinham com esmero. As pernas, outrora fortes, deram sinais de fraqueza. Nunca tinha presenciado uma morte tão perto. Mas tinha que ser forte, mais uma pessoa chorando não adiantaria em nada. E eu nem ao menos sabia quem tinha falecido.

Dirigí-me ao carro, postergando meu amado picolé. A estagiária estava lá. Alguns clientes também estavam. Procurei. A advogada estava atrás descansando o rosto no banco da frente. O marido da advogada estava no volante, também visivelmente triste. Nunca o vi daquele jeito.
Me aproximei da janela, ninguém queria falar nada. Perguntei:

- O que houve?...
- Mataram... o Antonio... - Ela falou entre soluços.

Engoli em seco. O famoso "tio tonho" não estava mais entre nós. Não sabia o que dizer. Só que nessas horas o cérebro da gente não computa direito. Lembra das coisas, das festas.

Ele fazia aniversário em primeiro de janeiro. Costumava matar algum animal e fazer uma festa na cidadezinha natal deles. Chamava todo mundo. Cheguei a ir muitas vezes, e todos, principalmente ele, me tratavam com muito apreço. Era bastante carismático, um senhorzinho do interior, adorava a calmaria das suas terras, e amava seus filhos e sobrinhos. Não era um ser humano perfeito, mas quem é? De vez em quando eu ouvia histórias das suas saídas para beber, uma mais mirabolante que a outra.

Uma lágrima começou a se formar, e eu a prendi. Saudades. Minha chefe disse que eu poderia ir pra casa se quisesse, já que eles iam resolver as coisas. Disse que voltaria ao trabalho. Sem problemas, eu disse.
Eles saíram e eu fiquei, no meio da rua, olhando o movimento.

Fui e comprei cinco picolés de morango.

O porteiro me avistou e perguntou:

- Falou com a sua mãe?
- Falei...

E fui subindo a escadaria do prédio, com cinco picolés na mão, muitos pensamentos, e uma oração.


Um comentário:

  1. O_______________________O POR ISSO VOCÊ ANDAVA TÃO ESTRANHO!
    Ai, que triste. Também nem sei o que dizer. Mas você escreveu fabulosamente. ):
    E por que amigos não podem ter uma DR? kkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Beijo.

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